domingo, 5 de maio de 2013

Funk carioca ganha cara nova com cantoras feministas e cheias de marra; conheça

                         Anitta                                                
Muitas vezes associado ao machismo ou às letras pornográficas, o funk carioca vem ganhando nova roupagem e conquistando terreno com um grupo de jovens cantoras que surgiram na internet, invadiram as rádios e agora mostram a cara --e o corpão sarado-- em programas da TV aberta vistos em todo o país.  Feministas à sua maneira, dizem valorizar a mulher com atitude, a marra de briguenta e a ostentação até pouco tempo atrás típica do sexo oposto no                funk --e no rap. Mas sem perder a ternura.
"Se não está mais à vontade, sai por onde entrei/ Quando eu começo a dançar, eu te enlouqueço, eu sei", canta Anitta em "Show das Poderosas", que, depois do sucesso no YouTube, já briga por uma posição nas cem mais tocadas das rádios brasileiras, segundo o site Hot100Brasil.
Adepta do funk melody, que mistura o romantismo à batida de tamborzão --o famoso e onipresente "tchu, tcha"--, Anitta já é chamada por muitos no meio de "o Naldo de saias", em referência ao cantor de "Amor de Chocolate", o hit do uísque ou água de coco.
Batizada como Larissa de Macedo Machado, de 20 anos, Anitta conta que escolheu o nome artístico inspirada  na adolescente sedutora da minissérie "Presença de Anita", exibida na Globo em 2001, e revela que criou, aos 16, a dança conhecida como "Quadradinho", movimento em que o bumbum desenha um quadrado imaginário, copiado e modificado ao infinito pela nova turma do funk.
Ainda assim, gosta de dizer que aprendeu a cantar na igreja e lembra que descartou um emprego de estágio na Vale do Rio Doce para seguir o sonho de se tornar estrela. "Já me espelho na Ivete Sangalo, mesmo sem largar o funk", diz a cantora, que há três meses fechou contrato com a gravadora Warner.


Mais marrenta que a colega, Ludmila Oliveira, a MC Beyonce, admite que é fã da popstar americana de quem empresta o apelido, mas quando o assunto são as "recalcadas" e "invejosas" do funk e da comunidade.

MC BEYONCE

"Ô, recalcada, escuta o papo da Beyonce/Não olha pro lado, quem tá passando é o bonde/ Se ficar de caozada, a porrada come", diz a MC na letra de "Fala Mal de Mim", clipe de sucesso no YouTube com mais de 3 milhões de visualizações que mostra a garota de 18 anos, de Duque de Caxias, cantando diante de milhares de pessoas.
Em oposição ao tempero "light" de Anitta, Beyonce classifica seu funk como "da pesada", mas garante que o clima de briga é só no palco. "Com o meu funk, quero atingir pessoas como eu, do bem", diz a integrante do grupo chamado Bonde das Meninas. "Só acho engraçado que tem muita invejosa com a cara de pau de ir ao meu show e ficar de costas para mim", alfineta ela, que revela já ter tocado em 15 estados do país e começou a carreira em um grupo de pagode. "Eu cantava pagode, mas me incentivaram, despretensiosamente, a virar funkeira em uma festa e foi assim que eu fiz sucesso."
O relativo sucesso - em uma noite de apresentações, uma MC costuma fazer até R$ 5.000 --leva à ostentação. Trilhando o mesmo caminho dos homens que esbanjavam correntes de ouro, carrões e mulheres saradas em seus vídeos, cantoras como MC Beyonce e MC Byana também têm investido no chamado "funk de ostentação", vertente do gênero que é hoje forte em São Paulo via nomes como MC Guimê, Nego Blue e Boy do Charmes. 
"Quem não gosta de ostentar e se vestir bem?", diz MC Byana, que, em seu hit "Luxúria", pede que as mulheres que gostam de dinheiro ergam o dedo para o alto. 

MC BYANA

Byana, nome artístico de Fabiana Ferreira, 19, foi revelada no ano passado quando participou do reality show do SBT "Qual É o Seu Talento?". Na letra de outro de seus hits, "Estilo Panicat", ela também defende o visual das assistentes de palco com corpos sarados de programas televisivos."Joga a mão para o alto quem é gostosa e se equilibra no salto", dizem os versos da música, que, para Byana, é um exemplo de feminismo. "Sou feminista e valorizo as mulheres em minhas letras", afirma a funkeira. E acrescenta: "Os homens acham que só porque têm o poder do dinheiro, título antigo dado a eles, podem mandar nas mulheres e temos que nos submeter a eles. E o que eu tento passar é o combate a isso".
Assim como Byana, Anitta e Beyonce também se dizem feministas e acreditam que conseguem passar para o público em suas letras "mais respeito a mulher".  "Sou feminista e levanto a bandeira. Em o 'Show das Poderosas', mostro que nós temos o poder para alcançar o que quisermos", defende Anitta.
"My Pussy é Poder"

Mariana Gomes, que defendeu a tese "My Pussy é Poder - A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural" no curso de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), concorda. 

Segundo a pesquisadora, as mulheres no funk desde Valesca Popozuda querem desmistificar o poder dos homens sobre o corpo delas. "Reivindicar o direito ao corpo é uma forma de feminismo. Não existe um compromisso direto com grupos feministas, mas o diálogo existe e atinge a sociedade pela música", conclui Mariana, que desde 2008 frequentou bailes funk nos morros para estudar o funcionamento da indústria cultural do ritmo.
Apesar do discurso combativo e politizado, o funk feminino tem precisado de uma certa maquiagem para ser bem aceito fora dos bailes do subúrbio. Um dos principais produtores do funk carioca, DJ Marlboro fala em "funk light" para se referir a artistas como Anitta. "Se você faz uma música pornográfica limita seu alcance de convencimento. Isso porque vira uma maneira das pessoas discriminarem e perseguirem o funk", avalia. 
Além de afastar os palavrões de suas músicas, cantoras como Anitta, Beyonce e Byana se descrevem como religiosas e - se não nas letras - fazem questão de recorrer a Deus nas entrevistas. "Ele é responsável por tudo isso que está acontecendo", diz a cantora de "Show das Poderosas", que admite andar um pouco distante das missas atualmente.
Mesmo exaltando o pecado capital da luxúria em uma de suas letras, MC Byana diz não deixar de lado a Igreja Evangélica, que, segundo ela, a ensinou a cantar. "Tudo o que aprendi sobre música foi lá. Hoje, ainda sou muito religiosa e, isso tudo, é passageiro. Não dá para viver de funk, o funk não tem futuro", conclui.
Fonte:musica.uol

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